
O intestino delgado tem a importante função de separar substâncias puras e utilizáveis das impuras e turvas que necessitam eliminação. Na medicina chinesa todas as funções "orgânicas" possuem uma correspondência com as nossas funções psíquicas. O intestino delgado além de auxiliar-nos no processo digestivo, possui uma função que atua em nosso psiquismo auxiliando a percepção daquilo que é importante e deve ser assimilado e o que deve ser descartado e eliminado. Dessa forma o intestino delgado é uma víscera que auxilia em nossos processos críticos. Podemos "criticar muito" e lançar muitas coisas fora, assimilando pouco, ou inversamente, podemos absorver tudo, gerando acúmulo de adiposidades, sobrepeso e constipação.
Nos quadros de diarreia devemos observar as manifestações de medo ou inconformidade na qual a pessoa que atravessa o processo não se sente forte ou capaz de lidar com os problemas. Com essa manifestação a pessoa se torna livre para retirar-se e eliminar o conteúdo sem se preocupar com a análise das impressões. Juntamente com esse conteúdo, perde-se muito líquido. Esse líquido governado pelos rins representa a flexibilidade e sabedoria para expandir as fronteiras que nos infundem medo e causam constrição. Nesses casos a administração de líquido como parte do tratamento representa simbolicamente a flexibilidade necessária para transpor os limites do medo. Também nos ensina a deixarmos de lado os apegos, permitindo as situações fluírem e tomarem seu curso natural.
O intestino grosso é uma víscera que realiza a reabsorção de líquidos e eliminação dos detritos sólidos resultantes do processo digestivo. Alguns psicanalistas interpretam a defecação como um ato de doação e generosidade. A constipação pode revelar questões relacionadas com a dificuldade de desprender-se daquilo que possui, com temas relacionados com a avareza. Outra correlação interessante é que o intestino delgado corresponde ao pensamento consciente, analítico e o intestino grosso corresponde ao subconsciente. Então, se no plano físico o intestino grosso pertence ao subconsciente, as fezes correspondem aos conteúdos do subconsciente. Dessa forma podemos perceber o medo de permitir que o conteúdo subconsciente seja percebido conscientemente. Trata-se de uma tentativa de mantê-lo oculto, fechado em nosso interior.
O fígado abriga a nossa alma sensível, que na medicina chinesa e no conhecimento oriental é conhecida como "Hun". Essa entidade visceral percebe os impulsos provenientes do exterior e organiza a nossa homeostase interna, sendo também responsável pela nossa imunidade tal como um general estrategista. O fígado em bom estado consegue auxiliar o estômago e o baço em suas funções digestivas e também fornecer ao ser humano o sentido de "direção/caminho" a seguir. Quando prejudicamos o nosso fígado perdemos a direção e dessa forma o ser humano preocupa-se, torna-se ansioso e sem a coragem necessária para atravessar as dificuldades da vida.
Os rins regem o metabolismo dos líquidos orgânicos e abrigam a nossa "vontade". Quando prejudicados pelos nossos hábitos intemperantes, como a falta de equilíbrio entre o trabalho e descanso, atividade sexual excessiva, exposição ao frio, transpiração excessiva, ou devido a alguma doença prolongada, sua energia debilita-se provocando alterações em outros sistemas orgânicos como o sistema digestivo. As emoções que lesam diretamente os rins são o medo e a indecisão. Pessoas que vivem com medo... De perder o emprego, de ser assaltada, de adoecer, enfim... Enfraquecem continuamente a energia renal produzindo sintomas físicos e funcionais com o passar do tempo.
A medicina chinesa considera a síndrome do intestino irritável uma doença crônica psicossomática que necessita uma abordagem energética capaz de produzir não apenas mudanças fisiológicas e funcionais, mas deve atingir o espírito, restaurando os desvios do pensamento e da conduta humana, as verdadeiras causas da enfermidade. O Ling-shu, uma obra canônica da medicina chinesa relacionada a acupuntura diz: "O clínico inferior perturba-se com os sinais e sintomas, o clínico superior vigia a energia e o espírito!".
Mas como pode uma medicina antiga e milenar ser tão precisa? Diferentemente da medicina ocidental que tem a cada dia aprimorado seus recursos diagnósticos através de modernos equipamentos, a medicina chinesa conta com milênios de observação que inclui: a pulsologia (percepção da energia dos órgãos através do pulso radial); observação das cores da face; dos olhos; da cor, forma e saburra da língua; dos odores emitidos; dos sons produzidos, desde o tom de voz até os ruídos obtidos por meio da palpação e percussão tóraco-abdominal; do questionamento sobre as excreções; hábitos de vida. Enfim, uma avaliação que permita compreender, apreciar o paciente no exato momento em que se encontra diante do terapeuta. Trata-se de uma arte que para ser refinada necessita dedicação, estudo, reflexão e uma longa prática clínica.
Fonte: https://www.epochtimes.com.br/