A síndrome do
intestino irritável (SII) é um transtorno intestinal funcional
caracterizado por alteração no hábito intestinal, associado à dor e/ou
desconforto abdominal. É frequentemente acompanhada de inchaço,
distensão e alterações na defecação, com alternância de constipação e
diarreia. A medicina chinesa considera a síndrome do intestino irritável
uma condição relacionada com alterações energéticas envolvendo os
intestinos e também em órgãos como os rins, baço e fígado.
Na concepção ocidental essa síndrome não se relaciona com patologias
inflamatórias, não sendo evidenciada por nenhum subtrato fisiopatológico
causador dessa síndrome. Suas características são as manifestações
episódicas vinculadas às refeições, ou em decorrência de uma infecção
intestinal, podendo também manifestar-se em períodos de muita tensão
emocional.
O intestino delgado tem a importante função de separar substâncias
puras e utilizáveis das impuras e turvas que necessitam eliminação. Na
medicina chinesa todas as funções "orgânicas" possuem uma
correspondência com as nossas funções psíquicas. O intestino delgado
além de auxiliar-nos no processo digestivo, possui uma função que atua
em nosso psiquismo auxiliando a percepção daquilo que é importante e
deve ser assimilado e o que deve ser descartado e eliminado. Dessa forma
o intestino delgado é uma víscera que auxilia em nossos processos
críticos. Podemos "criticar muito" e lançar muitas coisas fora,
assimilando pouco, ou inversamente, podemos absorver tudo, gerando
acúmulo de adiposidades, sobrepeso e constipação.
Nos quadros de diarreia devemos observar as manifestações de medo ou
inconformidade na qual a pessoa que atravessa o processo não se sente
forte ou capaz de lidar com os problemas. Com essa manifestação a pessoa
se torna livre para retirar-se e eliminar o conteúdo sem se preocupar
com a análise das impressões. Juntamente com esse conteúdo, perde-se
muito líquido. Esse líquido governado pelos rins representa a
flexibilidade e sabedoria para expandir as fronteiras que nos infundem
medo e causam constrição. Nesses casos a administração de líquido como
parte do tratamento representa simbolicamente a flexibilidade necessária
para transpor os limites do medo. Também nos ensina a deixarmos de lado
os apegos, permitindo as situações fluírem e tomarem seu curso natural.
O intestino grosso é uma víscera que realiza a reabsorção de líquidos
e eliminação dos detritos sólidos resultantes do processo digestivo.
Alguns psicanalistas interpretam a defecação como um ato de doação e
generosidade. A constipação pode revelar questões relacionadas com a
dificuldade de desprender-se daquilo que possui, com temas relacionados
com a avareza. Outra correlação interessante é que o intestino delgado
corresponde ao pensamento consciente, analítico e o intestino grosso
corresponde ao subconsciente. Então, se no plano físico o intestino
grosso pertence ao subconsciente, as fezes correspondem aos conteúdos do
subconsciente. Dessa forma podemos perceber o medo de permitir que o
conteúdo subconsciente seja percebido conscientemente. Trata-se de uma
tentativa de mantê-lo oculto, fechado em nosso interior.
O fígado abriga a nossa alma sensível, que na medicina chinesa e no
conhecimento oriental é conhecida como "Hun". Essa entidade visceral
percebe os impulsos provenientes do exterior e organiza a nossa
homeostase interna, sendo também responsável pela nossa imunidade tal
como um general estrategista. O fígado em bom estado consegue auxiliar o
estômago e o baço em suas funções digestivas e também fornecer ao ser
humano o sentido de "direção/caminho" a seguir. Quando prejudicamos o
nosso fígado perdemos a direção e dessa forma o ser humano preocupa-se,
torna-se ansioso e sem a coragem necessária para atravessar as
dificuldades da vida.
Os rins regem o metabolismo dos líquidos orgânicos e abrigam a nossa
"vontade". Quando prejudicados pelos nossos hábitos intemperantes, como a
falta de equilíbrio entre o trabalho e descanso, atividade sexual
excessiva, exposição ao frio, transpiração excessiva, ou devido a alguma
doença prolongada, sua energia debilita-se provocando alterações em
outros sistemas orgânicos como o sistema digestivo. As emoções que lesam
diretamente os rins são o medo e a indecisão. Pessoas que vivem com
medo... De perder o emprego, de ser assaltada, de adoecer, enfim...
Enfraquecem continuamente a energia renal produzindo sintomas físicos e
funcionais com o passar do tempo.
A medicina chinesa considera a síndrome do intestino irritável uma
doença crônica psicossomática que necessita uma abordagem energética
capaz de produzir não apenas mudanças fisiológicas e funcionais, mas
deve atingir o espírito, restaurando os desvios do pensamento e da
conduta humana, as verdadeiras causas da enfermidade. O Ling-shu, uma
obra canônica da medicina chinesa relacionada a acupuntura diz: "O
clínico inferior perturba-se com os sinais e sintomas, o clínico
superior vigia a energia e o espírito!".
Mas como pode uma medicina antiga e milenar ser tão precisa?
Diferentemente da medicina ocidental que tem a cada dia aprimorado seus
recursos diagnósticos através de modernos equipamentos, a medicina
chinesa conta com milênios de observação que inclui: a pulsologia
(percepção da energia dos órgãos através do pulso radial); observação
das cores da face; dos olhos; da cor, forma e saburra da língua; dos
odores emitidos; dos sons produzidos, desde o tom de voz até os ruídos
obtidos por meio da palpação e percussão tóraco-abdominal; do
questionamento sobre as excreções; hábitos de vida. Enfim, uma avaliação
que permita compreender, apreciar o paciente no exato momento em que se
encontra diante do terapeuta. Trata-se de uma arte que para ser
refinada necessita dedicação, estudo, reflexão e uma longa prática
clínica.
Fonte: https://www.epochtimes.com.br/