A acupuntura pode
ser um excelente meio para lidar contra as contraturas musculares
que assombram - é inevitável - a vida de qualquer corredor. Porque
melhora a irrigação e ajuda, assim, a descontrair os nódulos que estão
associados a "quase 90% da patologia que existe nos atletas". Falámos
com Eduardo Coelho, especialista em Medicina Desportiva e detentor da
competência em acupuntura Médica pela Ordem dos Médicos e pela Sociedade
Inglesa de acupuntura Médica. E ex-atleta de alta competição, o que
fá-lo conhecer sobremaneira as dores que nos infernizam os dias.
"A acupuntura tem vários princípios de ação. No local, vai melhorar a
irrigação da zona que estamos a tratar, ao tratarmos o músculo que está
‘contraturado', ou seja, onde existem pontos gatilho, vamos promover um
alongamento da fibra. Muitas vezes, a causa inicial pode até ser
articular, mas, por defesa, o organismo vai desenvolver as tais
contraturas musculares e vai haver uma imobilização daquela zona, um
défice de irrigação nas estruturas".
Mas, afinal, qual é o efeito da agulha propriamente dita? "Tentamos
encontrar o ponto mais próximo ao ponto motor do músculo, que é onde o
músculo recebe a enervação e é onde normalmente se formam os tais
nódulos da contratura muscular, os triger points. Ao entrar nesse ponto,
a agulha provoca um efeito mecânico, a ‘local twitch response' (LTR): o
músculo contrai e relaxa, aumentando o comprimento da fibra. A partir
daí desenrolam-se vários processos em que a agulha vai provocar uma
alteração ao nível da bioquímica do local. Vai diminuir a concentração
de substâncias vasoconstritoras, melhorando a irrigação da zona".
Este é o princípio básico da agulha. Eduardo Coelho, médico no
Futebol Clube do Porto, na Federação de Handebol e na Clínica Médica do
Exercício do Porto, soma-lhe a eletroestimulação. "Ao colocarmos
eletroestimulação associada, vamos provocar uma inibição da dor nos
terminais nervosos de todo o segmento ao nível da medula. E vamos também
ao nível do sistema nervoso central provocar a libertação de
beta-endorfinas, que vão variar em função das frequências aplicadas no
local".
A acupuntura serve apenas para tratar contraturas, então?
"Não só. A acupuntura vai ter esse efeito de tratamento do músculo,
mas, ao estarmos a estimular determinadas zonas, também podemos promover
alterações ao nível somático, ou seja, dos órgãos que estão associados a
essa mesma enervação. Ao tratarmos uma zona de referência ao nível da
perna, do nervo e da artéria tibial, vamos influenciar o sistema nervoso
simpático, melhorando a irrigação da perna. E vamos também influenciar
órgãos, vísceras, que compartam o mesmo segmento de enervação".
O médico lembra, aliás, que a acupuntura médica já faz parte de
protocolos de tratamento nas unidades de dor em geral. "Ao libertar
endorfinas vamos causar um efeito anti-inflamatório e analgésico
sistémico em todo o organismo e influenciar qualquer tipo de dor". É
usada, por exemplo, no tratamento da dismenorreia. Ou de problemas
gástricos, diminuindo a acidez e acelerando a cicatrizarão de úlceras.
Outra vantagem está no facto de não implicar nenhuma toma de
medicamentos, útil para pacientes com patologias que impeçam a toma de
anti-inflamatórios ou analgésicos ao nível da dor. A acupuntura médica
contemporânea é uma competência dada pela Ordem dos Médicos, para
médicos que frequentem uma pós-graduação numa universidade e tenham tido
um ano de prática.
Eduardo Coelho foi atleta de alta competição de handebol durante
cerca de 26 anos, enquanto ia tirando o curso de medicina. E a alta
competição é o campo de experimentação de tratamentos de eleição, porque
cada dia afastado dos treinos é um dia perdido. A dada altura, travado
por epicondilites que já não se resolviam com terapias convencionais,
foi encaminhado para a acupuntura. "Resolveu-me as epicondilites e nunca
mais voltei a ter problemas". Estudante de medicina, ficou convencido.
"Comecei por uma acupuntura mais tradicional. E tenho a noção de que
também resulta. Mas com a acupuntura médica contemporânea, os efeitos na
patologia miofascial são muito mais rápidos", explica.
Fonte: running.jn.pt