
Mas, afinal, qual é o efeito da agulha propriamente dita? "Tentamos encontrar o ponto mais próximo ao ponto motor do músculo, que é onde o músculo recebe a enervação e é onde normalmente se formam os tais nódulos da contratura muscular, os triger points. Ao entrar nesse ponto, a agulha provoca um efeito mecânico, a ‘local twitch response' (LTR): o músculo contrai e relaxa, aumentando o comprimento da fibra. A partir daí desenrolam-se vários processos em que a agulha vai provocar uma alteração ao nível da bioquímica do local. Vai diminuir a concentração de substâncias vasoconstritoras, melhorando a irrigação da zona".
Este é o princípio básico da agulha. Eduardo Coelho, médico no Futebol Clube do Porto, na Federação de Handebol e na Clínica Médica do Exercício do Porto, soma-lhe a eletroestimulação. "Ao colocarmos eletroestimulação associada, vamos provocar uma inibição da dor nos terminais nervosos de todo o segmento ao nível da medula. E vamos também ao nível do sistema nervoso central provocar a libertação de beta-endorfinas, que vão variar em função das frequências aplicadas no local".
A acupuntura serve apenas para tratar contraturas, então?
"Não só. A acupuntura vai ter esse efeito de tratamento do músculo, mas, ao estarmos a estimular determinadas zonas, também podemos promover alterações ao nível somático, ou seja, dos órgãos que estão associados a essa mesma enervação. Ao tratarmos uma zona de referência ao nível da perna, do nervo e da artéria tibial, vamos influenciar o sistema nervoso simpático, melhorando a irrigação da perna. E vamos também influenciar órgãos, vísceras, que compartam o mesmo segmento de enervação".
O médico lembra, aliás, que a acupuntura médica já faz parte de protocolos de tratamento nas unidades de dor em geral. "Ao libertar endorfinas vamos causar um efeito anti-inflamatório e analgésico sistémico em todo o organismo e influenciar qualquer tipo de dor". É usada, por exemplo, no tratamento da dismenorreia. Ou de problemas gástricos, diminuindo a acidez e acelerando a cicatrizarão de úlceras. Outra vantagem está no facto de não implicar nenhuma toma de medicamentos, útil para pacientes com patologias que impeçam a toma de anti-inflamatórios ou analgésicos ao nível da dor. A acupuntura médica contemporânea é uma competência dada pela Ordem dos Médicos, para médicos que frequentem uma pós-graduação numa universidade e tenham tido um ano de prática.
Eduardo Coelho foi atleta de alta competição de handebol durante cerca de 26 anos, enquanto ia tirando o curso de medicina. E a alta competição é o campo de experimentação de tratamentos de eleição, porque cada dia afastado dos treinos é um dia perdido. A dada altura, travado por epicondilites que já não se resolviam com terapias convencionais, foi encaminhado para a acupuntura. "Resolveu-me as epicondilites e nunca mais voltei a ter problemas". Estudante de medicina, ficou convencido. "Comecei por uma acupuntura mais tradicional. E tenho a noção de que também resulta. Mas com a acupuntura médica contemporânea, os efeitos na patologia miofascial são muito mais rápidos", explica.
Fonte: running.jn.pt