No ano passado cerca de 56% das pessoas que participaram de grupos de tabagismo em Campo Grande largaram o vício. Esse número quase dobrou em relação a ano anteriores, onde a média era de 30%. Segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) isso se deve a inserção da aurículoterapia no tratamento.
De acordo com a farmacêutica Ana Helena da Silva Gimenes, que é apoio técnico das equipes Nasf (Núcleo Ampliado de Saúde da Família), em um dos grupos, que era formado por sete pessoas, todas largaram o vício.
“É do mesmo princípio da acupuntura, a diferença é que na acupuntura são agulhas e na aurículoterapia são sementes na orelha, é um método não invasivo. E para a gente tem sido muito eficaz”, explicou Ana Helena.
As sessões e aurículoterapia são oferecidas em algumas UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família), por meio das 12 equipes Nasf existentes no município. Atualmente há 40 profissionais formados na prática atuando na rede pública de Campo Grande.
O objetivo da secretaria, conforme a responsável técnica das equipes Nasf na Capital, a nutricionista Alana Galeano, é ampliar o atendimento desta e das outras 11 práticas integrativas ofertadas na rede básica para todas as UBSFs da cidade, hoje essa cobertura chega em 70%.
“A gente já viu um aumento significativo da oferta, só que a gente quer ofertar este modelo [apresentado no caso do tabagismo] em todas as unidades. Então o foco agora é trabalhar isso”, declarou Alana.Para chegar a esse número, foram intensificados os cursos da área, reflexo disse está no aumento dos atendidos no último mês. “A gente tinha no mês de março 65 sessões de aurículoterapia, em abriu foram 219 e em maio foi para 468”, destacou a nutricionista.
Controle de dor
Além dos números apresentados em relação ao grupo de tabagismo, a prática também foi incluída no grupo de controle de dor e, de acordo com Ana Helena, dois 12 pacientes atendidos pela equipe Nasf, três apresentaram nível zero de dor.
“A gente teve pacientes com fibromialgia com controle de dor, pacientes que usavam medicamento que chegou a parar o uso do medicamento. Todos que começaram com um nível alto de dor, a gente usa uma escala científica para medir isso, chegaram em um nível menor”, relatou.
Segundo a farmacêutica, nesse sentido a secretaria está estudando uma forma de reduzir a medicação através do trabalho das práticas integrativas.
Práticas Integrativas e Complementares
A aurículoterapia faz parte das PICS (Práticas Integrativas e Complementares) que foram estabelecidas pelo Ministério da Saúde dentro do SUS (Sistema Único de Saúde). Em Campo Grande, conforme a responsável técnica das equipes Nasf, que aplicam as práticas no Estado, são oferecidas 12 das 29 regulamentadas pelo Ministério.
São elas: na especialidade há a acupuntura e a homeopatia; já na atenção básica são ofertados dança circular, meditação, musicoterapia, reiki, shantala, fitoterapia, aurículoterapia, medicina tradicional chinesa – lian Gong, yoga e terapia comunitária integrativa.
São atendidos mensalmente na acupuntura uma média de 194 pessoas. Já na homeopatia esse número passa de 200, sendo 92 no adulto e 133 no pediátrico.
Das 52 Unidades Básicas de Saúde da Família de Campo Grande, 37 oferecem algum tipo de PICS. As representantes orientam que os interessados procurem a unidade de saúde de sua região para saber quais ou se há oferta de práticas integrativas no local.
Atendimento estadual
De acordo com a responsável técnica das Práticas Integrativas Complementares do Governo do Estado, Patrícia Mecatti Domingos, em Mato Grosso do Sul existem 214 estabelecimentos de saúde que ofertas as PICS, em 65 municípios.
Além das práticas ofertadas em Campo Grande, outras cidades do Estado também possuem o Tai Chi Chuan, a arteterapia e terapia de florais. As atividades podem ser encontradas em cinco microrregiões: Dourados, Ponta Porã, Três Lagoas, Paranaíba e Campo Grande.
Nas cidades de Naviraí, Coxim, Corumbá, Jardim, Cassilândia, Itaquiraí e Antônio João o objetivo da SES (Secretaria de Estado de Saúde) é ampliar a oferta de fitoterapia.
A meta, conforme Patrícia, é atingir 100% das cidades sul-mato-grossenses com a oferta de algum tipo de PICS como forma de melhorar também o atendimento. Um exemplo disso, ainda segundo a responsável, foi apresentado em Antônio João.
No município, após a implantação da terapia de florais em gestantes, houve aumento de 60% no número de partos normais realizados na cidade. “Reflete em uma gestante mais relaxada e orientada”, afirmou.
Segundo Patrícia, um dos entreves para que as PICS sejam mais comuns é a falta de incentivo por parte dos gestores públicos. Para mudar isso, a secretaria tem tentado sensibilizar os prefeitos e secretários de saúde por meio dos próprios servidores que forem capacitados.
“Eles assinam um termo de compromisso de que vão atender a demanda e cadastrar a unidade em que o profissional atua e também sensibilizar os gestores para que eles comprem o material usado nas atividades”, declarou.
Outro problema, ainda conforme a responsável técnica, é a falta de uma política específica para as PICS, o que quer dizer falta de verba. Por isso as práticas são realizadas dentro de outras atividades, como a Saúde da Mulher, Sistema Prisional, Saúde do Trabalhador, Saúde Mental e Saúde Indígena.