Há cinco mil anos, na China, o ser humano descobriu que o estímulo de meridianos e pontos do corpo poderia trazer imensuráveis benefícios à saúde. Redução de estresse, alívio nas dores, ajuda na superação de vícios e melhor recuperação de lesões são apenas alguns dos efeitos atribuídos à acupuntura. No Distrito Federal, a técnica oriental completa 30 anos na rede pública de saúde, totalizando mais de 30 mil atendimentos por ano. Quem adere à prática garante que ela significa uma mudança de vida.
“Há 20 anos, tive meu primeiro contato com a acupuntura. Ela me ajudou em problemas como dores no ombro e na lombar, além de equilibrar minha energia”, ressalta a podóloga Maria Francisca de Sousa Barros Pinto, 53 anos. Moradora da Vila Planalto, ela se apaixonou pela técnica oriental e garante que ela é essencial para aumentar a qualidade de vida. “A gente se sente mais leve, com a qualidade do sono melhorada e com mais disposição. Sempre que vejo que há necessidade, procuro fazer”, afirma.
Maria também destaca que já tratou questões emocionais por meio da acupuntura. “É recomendado que, primeiro, voltemos os olhos para as nossas emoções, porque elas acabam trazendo outros problemas de saúde. Tive muitas melhorias relacionadas à angústia e à ansiedade”, destaca. A podóloga ainda garante que os efeitos podem ser sentidos no primeiro tratamento, e que, posteriormente, eles se intensificam.
“Antigamente, tinha enxaquecas crônicas, hoje, tenho apenas alguns episódios”, conta a estudante Neila Valéria Silva, 36. Semanalmente, ela passa por sessões de acupuntura. Por meio de amigos, ela conheceu a técnica em 2016 e percebeu claramente a mudança. “É uma prática que levamos para a vida. Esta semana, estou tratando cólica menstrual, e me ajuda muito, inclusive a manter a minha rotina”, destaca.
Pesquisas
Apesar de existir há milênios, pesquisadores não param de descobrir benefícios da acupuntura. Este mês, estudiosos americanos da Mayo Clinic apresentaram estudo preliminar na 71ª Reunião Anual da Academia Americana de Neurologia, na Filadélfia, nos Estados Unidos, indicando que a apneia do sono pode estar atrelada ao aumento do biomarcador de Alzheimer no cérebro. A acupuntura é muito indicada para tratar o transtorno e não apresenta qualquer efeito colateral ou invasivo, segundo o estudo.
Em Brasília, a acupuntura também é usada em unidades públicas de saúde para auxiliar no tratamento de câncer. Geralmente, a enfermidade causa dores aos pacientes, amenizadas com a técnica oriental. Em janeiro de 2018, o National Cancer Institute, nos Estados Unidos, divulgou pesquisa que explica que a prática consegue aliviar sintomas como náuseas, fadiga e xerostomia — causados pelo tratamento do câncer.
Em 2017, a especialista em acupuntura da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, Kamma Sundgaard Lund, também publicou estudo sobre acupuntura. De acordo com a pesquisadora, a técnica permite ainda tratar sintomas da menopausa. A estudiosa analisou 36 pacientes e constatou que foi possível diminuir ondas de calor, sintomas emocionais e de pele.
Debate
'Há 20 anos, tive meu primeiro contato com a acupuntura. Ela me ajudou em problemas como dores no ombro e na lombar, além de equilibrar minha energia,' Maria Francisca Pinto, podóloga(foto: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press ) Há uma polêmica entre os profissionais acupunturistas sobre quem pode exercer a profissão. O debate começou em 2002, quando o Conselho Federal de Medicina (CFM) entrou com processo contra outros conselhos que permitem especialização. A entidade defende que as únicas áreas que podem exercer a prática, além da médica, são a odontologia e a medicina veterinária. Desde então, o processo tramitou em diferentes instâncias e está pendente de avaliação no Supremo Tribunal Federal (STF).
O coordenador de acupuntura da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e presidente Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura, Fernando Genschow, defende que a técnica não deveria ter entrado no ramo dos negócios. Ele acusa os outros conselhos de terem se autorregulamentado. “Cada consultório médico é registrado e vigiado. Nesses outros, há falta de vigilância, que pode trazer inúmeros problemas aos pacientes”, aponta.
De acordo com Genschow, a acupuntura deve ser desenvolvida por médicos, porque apenas eles conseguem dar diagnósticos e conceder tratamento adequado aos pacientes. “Uma avaliação errada pode causar infecções, problemas nos nervos e até matar. Alguém sem a especialização médica não consegue constatar se o problema que a pessoa tem é relacionado a outra enfermidade; por isso, é tão perigoso”, frisa.
O diretor-geral da Escola Nacional de Acupuntura (ENAc), Ricardo Antunes, contesta essa posição. “Esse é um assunto amplo e não é uma questão de opinião. É um fato que a acupuntura é uma atividade livre em todo o território nacional, que não exige exclusividade. Ela é, sim, uma especialidade médica, como também em outras áreas”, pondera. Hoje, 12 conselhos, como os de enfermagem, farmácia e educação física, têm resoluções reconhecendo a técnica como especialização.
Ricardo explica que, além dos profissionais da saúde, interessados em ser acupunturistas devem procurar cursos específicos. “As pessoas podem fazer o curso de formação tradicional e exercer a profissão, após terminá-lo, apresentando toda a documentação, como diplomas e certificados”, explica. Para ele, o embate entre os conselhos ocorre porque o Estado brasileiro ainda não se dispôs a regulamentar a profissão.
Distribuição
No Distrito Federal, 18 especialistas são responsáveis pelo atendimento de acupuntura na rede pública de saúde. Eles ficam distribuídos em mais de 10 unidades, em diversas regiões administrativas.
Como funciona
Muitos imaginam que as agulhas sejam colocadas na pele, porém, ficam na profundidade enervada dos tecidos. Elas conseguem causar estímulos nos nervos, que são encaminhados ao sistema nervoso central, desencadeando o fenômeno chamado neuromodulação. Por isso, ocorre a normalização de funções sensoriais, motoras, imunológico e o controle de expressões emocionais.