A acupuntura – técnica milenar chinesa que aplica agulhas em pontos estratégicos do corpo – pode ser usada no tratamento de doenças que acometem o fígado, como hepatites B e C, assim como a cirrose. A conclusão é da pesquisa de doutorado A influência dos pontos de acupuntura Zusanli (E36) e Sanyinjiao (BP6) no desenvolvimento de lesões hepáticas induzidas por tioacetamida em ratos wistar, realizada pelo médico veterinário Alexandro dos Santos Rodrigues. Os experimentos foram feitos com ratos wistar, mas o pesquisador acredita que, futuramente, se aplicado em humanos, poderá melhorar a qualidade de vida dos portadores de doenças hepáticas.
O estudo foi realizado por meio de uma parceria entre as universidades de São Paulo (USP) e Federal de São Paulo (Unifesp). Como Alexandro é formado em medicina veterinária, foi co-orientado por Ângela Tabosa, especialista em medicina chinesa e integrante do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unifesp. "Iniciamos a pesquisa com animais para ver a viabilidade de fazermos o teste em humanos. O objetivo é pensar uma maneira de ajudar as pessoas que estão nas filas de transplante de fígado. Muitas delas não vivem a tempo de fazer a cirurgia", afirma.
Os animais foram divididos em sete grupos: sadios, que não passaram por nenhum tipo de intervenção; controle para tioacetamida, que receberam a medicação que induz o aparecimento de lesões hepáticas; controle para isofluorano, que receberam apenas anestésico; um grupo com aplicação de eletroacupuntura no pontos E36 (localizado na perna, próximo ao joelho) e outro no BP6 (próximo ao calcanhar). "Simulamos danos hepáticos iguais aos que acometem o ser humano. As lesões são bem parecidas com as provocadas pelo uso de bebidas alcoólicas", informa Rodrigues.
Os dois grupos restantes, E36s e BP6s, receberam aplicações em pontos "falsos", ou seja, em lugares próximos aos pontos verdadeiros (E36 e BP6), mas que não resultariam em nenhum efeito ligado à proteção hepática.
A indução foi feita em um prazo de sete semanas. Três vezes por semana, as cobaias eram sedadas. Na sequência, recebiam uma injeção com a droga e, logo depois, eram submetidas a 20 minutos de eletroacupuntura. Depois desse período, foram analisados e comparados os fígados dos animais dos grupos. Os resultados, segundo o pesquisador, foram bastante satisfatórios: os ratos que foram tratados com a eletroacupuntura tiveram 30% menos lesões que os animais do grupo que recebeu a indução das lesões, mas não receberam nenhum tratamento. "Os que só receberam a droga estavam com lesões hepáticas bem avançadas."
Para poder aplicar as sessões de eletroacupuntura, o médico-veterinário optou por usar o anestésico isofluorano, por via inalatória. "A maioria dos anestésicos comuns interfere de forma significativa na função hepática, e isso poderia prejudicar os resultados", conta. A dose usada foi a necessária para manter os animais em semiconsciência."
Para que o tratamento possa ser aplicado em seres humanos, é preciso passar por um protocolo, que prevê a realização de pesquisas em voluntários. Na avaliação do pesquisador, a expectativa é que o tratamento possa estar amplamente disponível no prazo de cinco a 10 anos. No entanto, em sua avaliação, como existe o serviço de acupuntura no Sistema Único de Saúde, os médicos podem fazer uso das técnicas e observar os resultados. "O paciente não precisa estar sedado. Os ratos foram sedados para que não mexessem durante a acupuntura. O procedimento é indolor ", acrescenta.
Doenças hepáticas
Conforme alerta o pesquisador, o tratamento pode melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas que sofrem com problemas hepáticos. De acordo com os dados com os quais Alexandro Rodrigues trabalhou em sua tese, cerca de 2 bilhões de pessoas se infectaram em algum momento com o vírus da hepatite B. Deste total, 325 milhões de indivíduos se tornaram portadores crônicos. Já a hepatite C acomete de 2,5% a 4,9% da população brasileira. A doença é difícil de tratamento e altamente contagiosa. "O contágio é três vezes mais fácil que o HIV."
Existem vários graus de lesões no fígado. Depois de repetidas agressões hepáticas, ocorre uma fibrose que, se não tratada, evolui até chegar à cirrose. Por sua vez, esta pode originar neoplasias hepáticas (câncer). "Pense em alguém que precisa tomar, diariamente, um medicamento que causa uma reação muito forte no fígado. O órgão seria afetado mesmo se estivesse em condições normais. Agora imagine se essa pessoa já estiver com o fígado comprometido devido à hepatite C ou à cirrose", questiona o pesquisador. "A acupuntura poderia ser usada como uma maneira de barrar grande parte dos danos ao fígado provocados pelo medicamento", completa.
O experimento
Coletadas amostras de sangue onde foram avaliados oito marcadores sanguíneos ligados a lesões
hepáticas: alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), glutamil transferase (GGT),
fosfatase alcalina (ALKP), albumina (ALB), proteína total (TP), bilirrubinas totais (TBIL) e globulinas totais (GLOB)
Foram administradas doses de tioacetamina (uma substância usada experimentalmente para induzir danos hepáticos), durante sete semanas
Alguns desses animais receberam acupuntura junto com a substância tioacetamida e outros receberam apenas a substância
No final das sete semanas, novas amostras de sangue foram coletadas dos animais para analisar os danos hepáticos
Resultados
Nos animais que receberam acupuntura, os danos chegaram a ser 30% menores do que nos animais que não receberam esse tratamento. Os resultados foram confirmados histologicamente pela análise do fígado dos animais que apresentaram um número de lesões bem menor quando comparados com os animais que não receberam acupuntura
Acupuntura
Quando a agulha da acupuntura é inserida na pele, ela causa um estímulo que percorre vias nervosas do corpo chegando até a medula óssea. Por meio da medula, a informação chega ao cérebro, onde neurotransmissores se encarregam de emitir respostas que agem em um determinado local do corpo
Fonte: http://tinyurl.com/6637cuq