Técnicas da medicina chinesa ganham espaço e podem ajudar pais na solução de problemas de saúde dos pequenos
Nathália Gomes faz tratamento com técnicas da acupuntura e da Medicina
Tradicional Chinesa há três meses. Manuela Pereira, há quatro meses. E
Catarina Lima, sempre que necessário. Nada de surpreendente nisso, a não
ser pelo fato de que Nathália tem 9 anos, Manuela tem 2 anos e meio e a
pequena Catarina, apenas 20 dias.
De acordo com o professor de
pós-graduação em acupuntura e de acupuntura pediátrica da Faculdade
Incisa/Imam, Luís Otávio Santos Alves, a idade não é restrição para uso
das técnicas. “Até porque essa prática vai muito além das agulhas –
existe a manipulação dos pontos com as mãos, aparelhos de laser de baixa
frequência, massagens e aplicação de pressão com sementes em pontos
específicos”, pondera o fisioterapeuta. Com esses estímulos em pontos
específicos, são liberados neurotransmissores que vão agir em todo o
organismo.
O professor explica que apenas com a modalidade pediátrica da massagem
chinesa tui-na, que utiliza movimentos de deslizamento, pressão e
torção, já é possível tratar dores de estômago e de cabeça, tosse e
diarreia. “E com uma grande vantagem: nas crianças, a resposta é ainda
mais rápida do que nos adultos”, define Luís Otávio. Ele afirma que ela
pode ser utilizada para melhorar e curar desde uma intolerância
alimentar, como a restrição à lactose, por exemplo, até as alergias
respiratórias.
Comportamento
Com a ampliação
do número de casos de hiperatividade diagnosticados em crianças, o
consultório tem recebido mais pais em busca de tratamento com a medicina
tradicional chinesa. “As crianças são bombardeadas por informações e
têm pouco contato com os pais. Muitas vezes, esse pouco tempo de
convivência é preenchido por cobranças em relação às tarefas e ao
desempenho escolar, por exemplo. Com cuidado, carinho e a acupuntura, é
possível reduzir a ansiedade”, relata o acupunturista.
É o caso
de Nathália Leopoldino Gomes, de 9 anos, em tratamento há três meses
para reduzir a ansiedade e melhorar a atenção. Após uma obervação da
escola sobre a agitação da menina, a primeira indicação foi de
atividades físicas. Mas a tia de Nathália, Isabella Gomes, que já tinha
feito acupuntura, resolveu se informar se a técnica também poderia
ajudar.
“Os resultados já são visíveis. Na hora de fazer os
deveres de casa, por exemplo, ela se concentra mais. Quando precisa
esperar alguma coisa, já tem mais paciência. Acredito que a vantagem é,
além do resultado rápido, evitar a dependência da criança em relação a
qualquer medicamento. O corpo é tratado como um conjunto”, relata
Isabella. Um pouco receosa no início, hoje Nathália se sente à vontade. O
tratamento começou com a auriculoterapia, que são as sementinhas
aplicadas em diversos pontos da orelha, e hoje já inclui as agulhas.
Luís
Otávio lembra que as crianças têm muita energia e essa é uma das
maneiras de canalizá-la. “Além do esporte, dança e outras atividades, a
acupuntura é uma forma de diminuir o ritmo. Hoje as crianças têm uma
rotina bem agitada”, argumenta.
Prevenção
Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), a acupuntura tem propriedades preventivas, profiláticas e
curativas. Mas muitas vezes os pequenos pacientes chegam ao especialista
depois que já passaram por várias consultas e exames, sem diagnóstico.
“Nestes casos, a parte preventiva fica prejudicada”, explica Luís
Otávio.
Foi o caso da psicóloga Fabiane Elisa Diniz Alves
Pereira. Ela teve o primeiro contato com acupuntura há seis anos, quando
um dos cachorros de estimação da família apresentou diagnóstico de
displasia e já havia deixado de andar, pois sentia muita dor. “Na época,
eu não acreditava em acupuntura nem para mim. Mas como a alternativa
era o sacrifício, resolvi arriscar”. O animal não precisou ser
sacrificado e viveu mais cinco anos, praticamente sem uso de
analgésicos.
Depois disso, a própria Fabiane fez o tratamento,
para amenizar a ansiedade no período em que estava tentando engravidar.
Um mês depois de começar as sessões, o teste deu positivo e Manuela
nasceu saudável. Há pouco mais de um ano, a menina começou a apresentar
uma diarreia crônica, com redução na velocidade de crescimento e no
peso. Foram meses de exames e consultas até que, por fim, Fabiane levou a
filha para a acupuntura pediátrica. Lá, o diagnóstico foi uma alteração
no baço.
“Logo após a primeira sessão, a diarreia começou a
ficar mais espaçada, não acontecia todos os dias. Depois de quatro meses
de tratamento, o problema desapareceu e já passamos as sessões, que
eram semanais, para quinzenais. O crescimento e ganho de peso começaram a
se normalizar. As roupinhas todas ficaram pequenas e ela voltou a
correr e brincar no quintal”, comemora a psicóloga.
Fabiane, antes desconfiada, hoje faz o curso de acupuntura. “Mas algumas
pessoas ainda ficam chocadas quando conto que minha filha faz uso da
técnica”, afirma. No início, para que a menina se adaptasse, as bonecas e
bichinhos de pelúcia viravam “cobaias” das agulhas. Hoje, a própria
Manuela já diz que o tratamento não dói. “É importante também construir
uma relação de confiança com a criança. Os responsáveis sempre devem
estar presentes na sessão e tudo deve ser explicado para ela, em
linguagem adequada à idade. Não é na base do susto”, explica Luís
Otávio.
Tanto Fabiane quanto Luiz Otávio concordam que, apesar de
ter crescido em credibilidade nos últimos anos, a acupuntura ainda tem
um espaço a ser conquistado. “Muita gente associa a uma atividade
mística, mas é apenas uma lógica diferentes daquela a que estamos
acostumados”, diz Fabiane. “É claro que determinadas enfermidades devem
ser tratadas também com o uso de medicamentos alopáticos, mas a
acupuntura traz resultados muito satisfatórios para várias alterações de
adultos e crianças”, afirma o professor.
Recém-nascidos
A médica pediatra Letícia Lima também já incorporou a acupuntura à sua
rotina pessoal e profissional. A filha Catarina, antes mesmo de
completar o primeiro mês de vida, já recebeu massagens terapêuticas
aprendidas no curso de especialização concluído pela mãe. “Ela estava
com cólica e o resultado foi muito bom. Bebês menores podem ser tratados
sem introdução de agulhas, apenas com manipulação pelas mãos e com o
uso de escovinhas”, explica Letícia.
“Passei um mês na China e
observei o uso sistemático da acupuntura de forma preventiva, inclusive
em crianças. E não só para doenças respiratórias – também para cólicas,
refluxo e outras alterações no aparelho gastrointestinal, enxaqueca,
hiperatividade e várias enfermidades”, diz a médica. Ela ressalta, no
entanto, que a cultura de cada país também interfere. “Lá, eles já têm o
hábito de beber muito líquido e se exercitarem. Aqui, as crianças já
estão comendo muito mal e ficam só dentro de casa, sedentárias”, diz.
Letícia
explica que as diferenças em relação à medicina ocidental começam no
diagnóstico. “A entrevista – chamada de anamnese – que fazemos com o
paciente e os pais, é mais detalhada e avalia todos os principais órgãos
do corpo, com destaque para o coração, fígado, intestino grosso, baço e
rins. Investiga-se a dieta, as atividades diárias e o comportamento
familiar, enfim, todos os elementos que podem interferir na harmonia do
organismo”, explica a acupunturista.
Assim como a maioria dos
pais que levam os filhos para o tratamento, Letícia foi, primeiro,
paciente. Sofrendo com a enxaqueca e após passar por três neurologistas,
a acupuntura resolveu o problema: há um ano, ela não tem crises.
“Embora o receio dos pais seja compreensível, a acupuntura é uma técnica
milenar e segura. Um profissional preparado é a melhor garantia para os
resultados”, reforça. A médica sugere que os adultos mais desconfiados
experimentem, porque “a acupuntura traz benefícios para todos”.
Fonte: http://www.em.com.br/