Médicos trabalham técnica tradicional chinesa de maneira isolada ou como auxiliar ao tratamento de reprodução assistida
Mais do que uma herança da tradição chinesa, a acupuntura tem
conseguido avanços que a medicina ocidental não consegue sozinha. É o
caso do tratamento para fertilidade.
O método, que é utilizado de forma isolada ou juntamente com técnicas
de reprodução assistida, pode ser um grande aliado para quem sofre de
infertilidade. Além de ser menos invasiva e ter menos efeitos
colaterais, a acupuntura aumenta as chances de pacientes que tentam
engravidar de 23% a 26% para cerca de 50%.
Segundo o clínico geral e acupunturiatra (médico especializado em
acupuntura) Dr. Fernando Genschow, que esteve no II Congresso
Internacional de Acupuntura e XVII Congresso Brasileiro de Acupuntura,
em São Paulo, a busca para ajudar quem tem dificuldade para ter filhos
tem aumentado, uma vez que as próprias clínicas de fertilização in vitro
indicam a técnica milenar chinesa:
— Nesses casos, usamos a acupuntura de duas formas: uma é para
estimular a ovulação quando existem alterações atribuídas a desordens
emocionais. Isso acontece quando os médicos não encontram causas
biológicas que impedem a gravidez e chegam à conclusão de que pode haver
ansiedade ou desordem hormonal. Assim, a técnica ajuda na
reestruturação do eixo neuro-hormonal. O outro caso é quando a
acupuntura auxilia técnicas de reprodução assistida, seguindo um
protocolo de sessões mais específico.
Presidente do CMBA (Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura), o
acupunturiatra Dr. Hildebrando Sabato, explica que o mecanismo de ação
da acupuntura na mulher que deseja engravidar funciona na regulação de
neurotransmissores, a fim de preparar o organismo para a gravidez e
diminuir o nível de estresse da mulher.
— Primeiro, estimula-se a secreção das gonadotrofinas (hormônios
mensageiros que regulam o funcionamento dos ovários), que influencia o
ciclo menstrual. Depois, trabalha-se para um aumento do fluxo sanguíneo
para o útero, assim como para a inibição das contrações uterinas. Por
último, foca-se na produção endógena de opióides (como a endorfina), que
diminuem a resposta fisiológica ao estresse.
Assim, afirma o especialista, há melhora considerável na chamada
receptividade no útero, diminuindo as chances de rejeição do embrião.
Em palestra no congresso, o médico taiwanês Dr. Yu Sheng Tze, membro da
Sociedade Argentina de Acupuntura, ressaltou ainda que a acupuntura
ajuda mulheres que tentam engravidar ao estimular o fluxo sanguíneo para
engrossar o endométrio (membrana que reveste a parede interna do
útero), com o objetivo de tonificá-lo para a implantação do embrião.
Segundo ele, a técnica chinesa é recomendada para mulheres que sofrem
de: endometriose, dor uterina, irregularidade menstrual, obstrução das
trompas, fluxo menstrual intenso ou mesmo aquelas que se queixam de
diminuição da libido.
Efeitos colaterais
Diferentemente de recursos da medicina ocidental, a acupuntura não
causa efeitos colaterais indesejáveis, explica o Dr. Genschow:
— O estímulo da acupuntura é neurológico e não é ruim, pois usamos as vias naturais do organismo.
O especialista conta ainda que a técnica pode ser promissora não apenas para mulheres, mas também para homens:
— Há homens cujos espermatozoides aparecem em número reduzido no
espermograma, com perda de movimento ou mesmo com algum tipo de
deformidade. A urologia não tem propostas medicamentosas para isso, mas a
acupuntura conseguiu resultados surpreendentes e apresentou melhoras
tanto na quantidade dos espermatozoides, quanto na mobilidade e no
formato.
Acupunturiatra e especialista em fertilização, o Dr. Silvio Siqueira
Harres, explica que é necessário um total de oito sessões de acupuntura
para mulheres que querem ser mãe: quatro sessões semanais antes da
inserção do embrião no útero, uma sessão feita imediatamente antes e uma
logo após o procedimento, outra realizada quatro dias depois e mais uma
no oitavo dia após o “ovo” ter sido implantado. Recomenda-se ainda mais
12 sessões semanais para o período crítico da gravidez, quando as
chances de abortar são maiores.
— Comparando com as taxas internacionais de tratamento de fertilização
in vitro sem acupuntura, que vão de 23% a 26%, conseguimos dobrar e
chegar a 50%. Das primeiras 50 pacientes que não conseguiam engravidar
de jeito nenhum, 12 até desistiram de fazer a fertilização in vitro,
pois engravidaram espontaneamente logo nas primeiras sessões.
Para os homens, o protocolo recomenda tratamento por um período de seis
semanas, com duas sessões semanais que durem de 20 a 30 minutos.
Além de clínicas particulares especializadas, o tratamento baseado na
tradicional medicina chinesa também é disponibilizado na rede pública do
País pelo SUS (Sistema Único de Saúde) nos Estados de Pernambuco,
Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Minas Gerais, São Paulo,
Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal.
Fonte: http://noticias.r7.com/