Em um ano, atendimentos pelo sistema público crescem 76%; agulhas já
são usadas por médicos de várias especialidades, de ortopedistas a
psiquiatras
As agulhadas usadas para aliviar a dor
do motoqueiro ferido no trânsito e internado na UTI também são
empregadas para tratar a perna da senhora que já passou por todos os
médicos, sem resultados. Eles são exemplos de pacientes que estão entre
os 1,2 milhão de atendimentos de acupuntura
feitos no Sistema Único de Saúde (SUS) no último ano.De acordo com um
levantamento inédito feito pelo Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura
(CMBA), o total de consultas realizadas em 2011 – tabulados por meio
do banco de dados do Ministério da Saúde – representa um aumento de
76,4% comparado as 680 mil feitas no ano anterior.
O crescimento do chamado método alternativo gratuito tem a
contribuição das mais variadas especialidades médicas, da ortopedia à
psiquiatria. De forma pioneira, é utilizado até mesmo em meio ao
maquinário das unidades de terapia intensiva (UTI), como conta Fernando
Genschow, médico do CMBA e um dos autores da resolução nacional que
estabeleceu, em 2006, as diretrizes da introdução da acupuntura no SUS.
“Acupuntura é neurociência. É um método muito versátil porque as
agulhas promovem estímulos neurológicos repercutidos em todas as
células do corpo”, afirma o especialista, que atua no Hospital do
Distrito Federal.
“Por isso, no último ano introduzimos a técnica nas UTIs. Atendemos
especialmente as vítimas de acidentes de trânsito, a maioria
motociclistas, com múltiplos traumas no corpo.”Segundo Genschow, são
dois objetivos principais que justificam o emprego das agulhas para
pacientes que exigem cuidados intensivos: o alívio da dor, indicação
que concentra a maior parte das pesquisas científicas sobre acupuntura,
e melhora da função respiratória dos acidentados.
“Como o tratamento promove uma reprogramação cerebral isso repercute
na melhora da respiração. A necessidade de um respirador artificial é a
mais frequente para manter o paciente na UTI. Então, além de melhorar a
qualidade de vida, a acupuntura também pode reduzir o tempo de
internação. Lá na ponta, isso pode até reduzir os custos hospitalares”,
completa o especialista.
Celeiro científico
Apesar da experiência na UTI do hospital do Distrito Federal, a
maior parte da utilização das agulhas como parte do tratamento no SUS
se dá em consultas de rotina, feitas em ambulatórios.
Para ter acesso, o paciente precisa ser encaminhado por um médico do
serviço público. É neste contexto que as unidades de acupuntura acabam
acumulando casos de pacientes cujas dores não têm solução. São os
pessoas que já tentaram inúmeros tratamentos convencionais sem efeito
esperado, como conta a dona de casa Maria Eni da Silva Santos, 46 anos,
moradora de São Paulo.
“Sofri 10 anos seguidos por causa de uma dor nas costas que
queimava, não me deixava levantar da cama e exigiu afastamento do
trabalho (auxiliar administrativo)”, lembra.
“Fui tratada por ortopedistas, neurologistas e até psiquiatra. Há 3
anos, meu médico indicou a acupuntura. É um complemento da
fisioterapia, mas já após a terceira sessão semanal pude respirar sem
sentir dor”, conta ela, que voltou a trabalhar há 3 meses.Maria Eni é
atendida no centro de acupuntura do Hospital das Clínicas de São Paulo
(HC), onde encontra outras pessoas que “já tentaram de tudo” até
chegarem ao serviço coordenado pelo médico André Tsai.Os nossos
pacientes vêm de todas as áreas do HC, desde o Instituto do Câncer até o
Instituto Central. Também são referenciados por Unidades Básicas de
Saúde (UBS) próximas ao hospital”, diz Tsai.
“Nossa equipe é formada por ortopedistas, fisiatras, neurologistas,
psiquiatras e clínicos gerais que também são acupunturistas. É o que
permite dar conta das mais variadas queixas, muitas que se estendem por
anos”, define.
Dores, insônia , depressão , paralisias faciais e pneumonias
estão entre os problemas dos 200 casos novos recebidos mensalmente no
centro de acupuntura do HC. Eles também ajudam a formar o celeiro
científico existente no local, já que – com o apoio dos estudantes de
medicina que também atuam na unidade – são conduzidas pesquisas
científicas para comprovar (ou não) a eficácia da acupuntura na melhora
dos quadros clínicos mais variados.
Barreiras
Ampliar as comprovações científicas da indicação da acupuntura como
tratamento é uma das barreiras para que mais unidades públicas ofereçam
a prática. Por ora, os estudos científicos mais contundentes são
internacionais e concentram-se no uso da acupuntura para o alívio da
dor.
“Eu gostaria de ser estudada porque a acupuntura salvou a minha vida”, afirma a psicóloga Leila Strazza. Há 17 anos, ela teve um tumor na medula espinhal de por causa da cirurgia acabou na cadeira de rodas. “As agulhadas não só me fizeram voltar a andar, como me ajudaram com
a depressão, com as dores e até melhoraram a qualidade da minha visão.
Eu englobo todas as maravilhas que a acupuntura pode promover”,
acredita ela que, de fato, é estudada pela equipe do HC.
Além das
comprovações científicas, a acupuntura gratuita ainda é feita por
apenas 500 médicos em todo País, o que indica que o acesso não é
universal. Não só dos dados científicos precisam ganhar fôlego como
também as vagas para acolher os pacientes, avalia o CMBA
Fonte: www.midianews.com.br